Quietude
por motivos de viagem, hoje a newsletter é um poema
Essa postagem devia ter sido enviada para o email dos assinantes e para o site Além da Letra exatamente na manhã do sábado passado, 04/10. Mas programei errado e o envio não aconteceu. Como continuo de férias (recesso, na verdade), ele sai agora, com um pequeno atraso.
Em vez de ensaio, dessa vez teremos um raro poema (não é o suficiente para que eu inclua “poeta” no currículo, mas rendeu um post da newsletter). [1]
Em 2025,
A professora de advaita vedanta
Helen Hamilton
pergunta calmamente:
“O que é a quietude”?
(pausa)
Helen diz
que não devemos responder.
A própria pergunta a ecoar
está fazendo todo o trabalho.
(pausa)
Em 1952,
o compositor John Cage
compõe os três movimentos
de sua nova peça
“4’33”.
Quatro minutos
e 33 segundos
sem música.
Uma partitura
de silêncio.
(pausa)
Em 1974,
a artista Marina Abramović
anunciou sua nova obra
Rhythm 0
na qual distribuía
72 objetos em uma mesa
enquanto Marina se sentava,
dizendo que, na verdade,
“eu sou o objeto”.
E as pessoas lhe deram flores,
afagos, palavras gentis,
mas também lhe feriram
com espinhos,
lhes cortaram as roupas
com uma tesoura,
e apontaram uma arma
carregada
na sua cabeça.
(pausa)
Agora,
um poeta recita
esse poema,
ou um leitor o lê
mentalmente,
o que significa
a mesma coisa.
Agora,
as pausas sugeridas
se tornam silêncios?
Os silêncios
se tornam espelhos?
Por que o medo?
O movimento
é sempre para fora?
Precisa sempre
ser para fora?
Quem é você?
Foi o poeta
quem perguntou?
Você fez silêncio?
O que o silêncio
faz com você?
(pausa)
“O que é a quietude”?
(pausa)
Você conseguiria
não responder?
E deixar a própria pergunta
fazer todo o trabalho?
[1] Poema inspirado nesse vídeo:




